quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Malditos Comunistas! por José Roberto Torero

MALDITOS COMUNISTAS!
Em Cuba, se você tiver aptidão para o esporte, vai poder se desenvolver com total apoio do estado. Pô, assim não vale! Do jeito que eles fazem, com escolas para todos, professores especializados e centros de excelência gratuitos, é moleza. Quero ver é fazer que nem a gente, no improviso. Aí, duvido que eles ganhem de nós. Duvido!
José Roberto Torero
Acabaram os jogos Pan-Americanos e mais uma vez ficamos atrás de Cuba.

Mais uma vez!

Isso não está certo. Este paiseco tem apenas 11 milhões de habitantes e o nosso tem 192 milhões. Só a Grande São Paulo já tem mais gente que aquela ilhota.

Quanto à renda per capita, também ganhamos fácil. A deles foi de reles 4,1 mil dólares em 2006. A nossa: 10,2 mil dólares.

Pô, se possuímos 17 vezes mais gente do que eles e nossa renda per capita é quase 2,5 vezes maior, temos que ganhar 40 vezes mais medalhas que aqueles comunas.

Mas neste Pan eles ganharam 58 ouros e nós, apenas 48.

Alguma coisa está errada. Como eles podem ganhar do Brasil, o gigante da América do Sul, a sétima maior economia do mundo?

Já sei! É tudo para fazer propaganda comunista.

A prova é que, em 1959, ano da revolução, Cuba ficou apenas em oitavo lugar no Pan de Chicago. Doze anos depois, no Pan de Cáli, já estava em segundo lugar. Daí em diante, nunca caiu para terceiro. Nos jogos de Havana, em 1991, conseguiu até ficar em primeiro lugar, ganhando dos EUA por 140 a 130 medalhas de ouro.

Sim, é para fazer propaganda do comunismo que os cubanos se esforçam tanto no esporte. E também na saúde (eles têm um médico para cada 169 habitantes, enquanto o Brasil tem um para cada 600) e na educação (a taxa de alfabetização deles é de 99,8%). Além disso, o Índice de Desenvolvimento Humano de Cuba é 0,863, enquanto o nosso é 0,813.

Tudo para fazer propaganda comunista!

Aliás, eles têm nada menos do que trinta mil propagandistas vermelhos na cultura esportiva. Ou professores de educação física, se você preferir. Isso significa um professor para cada 348 habitantes. E logo haverá mais ainda, porque eles têm oito escolas de Educação Física de nível médio, uma faculdade de cultura física em cada província, um instituto de cultura física a nível nacional e uma Escola Internacional de Educação Física e Desportiva.

Há tantos e tão bons técnicos em Cuba que o país chega a exportar alguns. Nas Olimpíadas de Sydney, por um exemplo, havia 36 treinadores cubanos em equipes estrangeiras.

E existem tantos professores porque a Educação Física é matéria obrigatória dentro do sistema nacional de educação.

Até aí, tudo bem. No Brasil a Educação Física também é obrigatória.

A questão é que, se um cubano mostrar certo gosto pelo esporte, pode, gratuitamente, ir para uma das 87 Academias Desportivas Estaduais, para uma das 17 Escolas de Iniciação Desportiva Escolar (EIDE), para uma das 14 Escolas Superiores de Aperfeiçoamento Atlético (ESPA), e, finalmente, para um dos três Centros de Alto Rendimento.

Ou seja, se você tiver aptidão para o esporte, vai poder se desenvolver com total apoio do estado.

Pô, assim não vale!

Do jeito que eles fazem, com escolas para todos, professores especializados e centros de excelência gratuitos, é moleza.

Quero ver é eles ganharem tantas medalhas sendo como nós, um país onde a Educação Física nas escolas é, muitas vezes, apenas o horário do futebol para os meninos e da queimada para as meninas. Quero ver é eles ganharem medalhas com apoio estatal pífio, sem massificar o esporte, sem um aperfeiçoamento crescente e planejado.

Quero ver é fazer que nem a gente, no improviso. Aí, duvido que eles ganhem de nós. Duvido!

Malditos comunistas...

José Roberto Torero é formado em Letras e Jornalismo pela USP, publicou 24 livros, entre eles O Chalaça (Prêmio Jabuti e Livro do ano em 1995), Pequenos Amores (Prêmio Jabuti 2004) e, mais recentemente, O Evangelho de Barrabás. É colunista de futebol na Folha de S.Paulo desde 1998. Escreveu também para o Jornal da Tarde e para a revista Placar. Dirigiu alguns curtas-metragens e o longa Como fazer um filme de amor. É roteirista de cinema e tevê, onde por oito anos escreveu o Retrato Falado.

sábado, 3 de setembro de 2011

Boletim Unha de Gato do DCE UFPI - Vitória dos estudantes

O aumento da passagem de ônibus de sexta-feira para sábado (27/08), de R$ 1,90 para R$ 2,10, pegou a população teresinense de surpresa, que não ficou de braços cruzados com o golpe da prefeitura que a cerca de 100 dias já vinha discutindo o transporte público através do Fórum Estadual do transporte Público. O abusivo aumento de 10,53% autorizado pelo prefeito Elmano Férrer (PTB) logo repercutiu nas entidades estudantis e nos movimentos sociais, bem como nas redes sociais que mobilizou os estudantes para se encontrar na segunda-feira na Avenida Frei Serafim, que foi o palco de todas as concentrações, dando início às sucessivas manifestações.



O primeiro dia foi marcado pela indignação coletiva dos estudantes, que entraram em confronto com a polícia militar. A tropa de choque foi acionada e efetuou tiros de bala de borracha e usou spray de pimenta contra os estudantes que por volta de meio dia já eram cerca de 200. No momento em que alguns estudantes foram detidos, mesmo sem esboçar reação, alguns jovens chegaram a ser agredidos por policiais.

Na terça-feira os atos policiais só aumentaram a indignação dos manifestantes, que com outras entidades continuaram a mobilização através das redes sociais e conseguiram parar o Centro da Cidade por toda à tarde, sendo que o protesto cada vez mais conquistava a população teresinense.

No terceiro dia de protesto, ainda concentrados na Avenida Frei Serafim uma massa lutadora estudantil e dos movimentos sociais se dirigiram para o Palácio da Cidade, onde não foram recebidos pelo Prefeito, mostrando a intransigência em não negociar. Houve novos confrontos na Praça da Bandeira entre policiais e estudantes. No final da tarde o Ministério Público Estadual promoveu uma rodada de negociações com os estudantes e a Prefeitura, que não obteve nenhum avanço no diálogo, ficando acordado que o Prefeito Elmano Férrer daria uma resposta na quinta-feira.

Com quatro dias de mobilização os estudantes de todas as partes da cidade se dirigiram novamente para o Palácio da Cidade para obter uma resposta do Prefeito, que mais uma vez negou a redução do aumento da passagem. A ação do Prefeito deixou os manifestantes mais revoltados ainda que saíram pelas ruas de Teresina em atos de rebeldia, chegando a incendiar ônibus. As manifestações transcorreram até à noite, pois o SETUT tirou os ônibus de circulação e os atos foram matérias em jornais de redes de televisão nacionais.

Ainda na quinta-feira, o diretor do DCE/UFPI, Cássio Borges foi convidado para um debate em uma TV local, o que foi fator fundamental para o recuo do prefeito na sexta-feira, pois durante o debate Cássio Borges argumento que a prefeitura suspendesse o aumento até a conclusão da auditoria nas 13 empresas de ônibus e descontruiu a imagem negativa do movimento que estava sendo potencializada pela imprensa.

Sexta-feira era o quinto dia de manifestação e o movimento se dirigiu à Câmara Municipal para tentar o apoio dos vereadores, ainda na Câmara os estudantes foram informados que depois de cinco dias de pressão o prefeito cede, e suspende o valor de R$ 2,10 por 30 dias, prorrogáveis por mais 30, a primeira vez que uma manifestação de rua consegue uma vitória dessas. Com o ato o prefeito autorizou a participação dos estudantes na Comissão de Auditoria.

Estima-se que durantes os atos cerca de 15.000 pessoas ocuparam as ruas de Teresina em protesto por mais de 5 dias, totalizando umas 60 horas de manifestação. Os atos foram organizados entre outras entidades pelo Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Piauí – DCE/UFPI, Coletivo da União Nacional dos Estudantes – UNE-PI, União Brasileira de Estudantes Secundaristas – UBES-PI, União Municipal de Estudantes – UMES, União da Juventude Socialista e Fórum Estadual do Transporte Público.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

ASSEMBLEIA UNIVERSITÁRIA DA UFPI - 31/05/2011 (Terça-Feira) às 14h em frente a Reitoria


Estudantes, Professore (a)s e Técnico – Administrativo (a)s)

LOCAL: Em frente à REITORIA
DATA: 31/05/11 (TERÇA-FEIRA)
HORÁRIO: 16h

OBJETIVO: Protestar, pacificamente, contra os desmandos da Administração superior da UFPI e entregar documento com pauta de reivindicações.

CONCENTRAÇÃO: No estacionamento do CCHL/CCE

MOTIVAÇÃO DA ASSEMBLEIA UNIVERSITÁRIA

A atual administração do reitor da UFPI, de forma reiterada e em completa dissonância não apenas com os regramentos legais, mas com a postura exigida a quem é detentor de função pública tão distintiva e importante, vem, desde o início de seu Reitorado (2004), praticando inúmeras irregularidades e afrontando a legalidade e a democracia, a provocar a indignação em toda a comunidade acadêmica e na sociedade piauiense.

Vejam uma pequena parte dos graves problemas vividos pela Universidade Federal do Piauí sob a gestão do professor Luiz de Sousa Santos Júnior:

· Utilização de Processos Administrativos Disciplinares para intimidar e chantagear professores e técnico-administrativos. As comissões são escolhidas ao livre arbítrio do reitor, sem atender a qualquer critério e muitas vezes o processo inquisitório corre à inteira revelia dos processados, o que constitui grave afronta aos direitos do cidadão, e, especialmente, grande descompasso com o ambiente democrático que as universidades exigem.

· Prevaricação. Por proteção indevida, pelo reitor e por alguns de seus subordinados ocupantes de cargo de livre exoneração e nomeação, de autores de condutas irregulares após tomar ciência em caráter formal.

· Abusiva Terceirização. A contratação abusiva de terceirizados para cargos de assistentes e auxiliares administrativos, proibida pela lei 11.091/2005 que criou o Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Adminitrativos em Educação (PCCTAE).

· Constante afronta ao Regimento Geral e ao Estatuto da UFPI. O que se expressa de diferentes maneiras, como, por exemplo, por meio da indicação de diretores pro tempore e da exaustiva e abusiva utilização de avocações e de decisões ad referendum, a atropelar as decisões colegiadas.

· Descumprimento constante de Recomendações do Ministério Público Federal. Como por exemplo, o MPF recomendou a previsão, nos editais de todos os processos seletivos e concursos públicos realizados pela UFPI, da possibilidade da interposição de recursos administrativos, em todas as etapas do certame. O MPF também determinou a publicação de todos os documentos a garantir o princípio da publicidade, o que continua a inexistir, porque não é possível encontrar sequer os atos da reitoria na página da UFPI.

· Exoneração arbitrária e ilegal do prof. Kilpatrick (Letras/CCHL). O professor não teve direito à ampla defesa e ao contraditório. O reitor deu início ao processo e o findou, sem conceder o direito de o professor ter ciência da existência do processo.

· Jubilamento de estudantes sem observância da ampla defesa e do contraditório: O reitor impediu a matrícula de milhares de estudantes, sem ouvi-los, quando, em verdade, o problema da evasão se deve, em larga medida, à ausência da oferta de disciplinas de forma regular.
ADUFPI-SINTUFPI-DCE

Calourada Unificada do DCE-UFPI. Não percam!!!!1

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Muito boa essa charge de Nani para A Charge Online

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Há 30 anos, morria Bob Marley, ícone do reggae


Extraído de Portal Vermelho.

Há exatos 30 anos, morria Bob Marley. Considerado o expoente mais alto do reggae, ele tinha apenas 36 anos de idade quando faleceu, vítima de um câncer detectado quatro anos antes. Deixou a vida para assumir na história o papel de ícone.

Três décadas após a sua morte, o "rei do reggae" continua a ser recordado um pouco por todo o mundo, sendo uma constante fonte de inspiração para dezenas de novos artistas. Músicas como No Woman No Cry, Could You Be Loved ou I Shot The Sheriff hoje fazem parte de um repertório coletivo da música internacional.

Poucos gêneros musicais dispõem de uma figura central, tão próxima quanto possível da unanimidade, como acontece com o reggae. Bob Marley foi coroado nesse feudo, como o foram Elvis Presley no rock e Michael Jackson no pop.

Acontece que nem todo aquele que se considera roqueiro gosta do som pioneiro e antiquado do rei do rock; e no pop, onde a infidelidade e a amnésia são gerais, Jackson passou uma década no ostracismo e só foi recuperado graças à tradicional necrofilia da indústria fonográfica.

Com Marley é diferente: ele pode não se o favorito de todos, mas é quase onipresente nas coleções de fãs, no repertório de bandas não-autorais e no setlist de festas que se dedicam ao gênero jamaicano.

Para além do gênio musical, sua figura, com enormes dreadlocks e um charuto de marijuana (erva de uso religioso pelos rastafaris) sempre na ponta dos dedos, se tornou quase tão forte quanto a do médico revolucionário Che Guevara e sua boina estrelada, o popstar pacifista John Lennon e seus óculos de aros redondinhos e superguitarrista Jimi Hendrix e seu instrumento canhoto.

O mais conhecido rosto do movimento espiritual Rastafari, defensor de uma mensagem de paz, liberdade e emancipação, denunciador da pobreza, da repressão e da realidade social da Jamaica, Marley deixou, em vida, 14 álbuns – 12 de estúdio e dois ao vivo –, bem como um legado no reggae que permanece sólido até hoje, com mais de 200 milhões de discos vendidos.

“Legend”, lançado originalmente em 1984, continua a ser o álbum mais vendido da história do reggae. Já “Exodus” (1977) foi eleito pela revista Time como um dos melhores álbuns do século 20.

Último registro

A saúde abalada o fez parar os shows, encerrando abruptamente a turnê do disco Uprising (1980), em 23 de setembro de 1980, no palco do Stanley Theatre, em Pittsburgh (Pensilvânia, EUA). É justamente o registro em áudio desta última performance em palco o primeiro produto escolhido pela gravadora da família Marley, Tuff Gong, para marcar a efeméride das três décadas de morte do jamaicano mais famoso do planeta.

Live Forever surge como mais um ótimo registro do carisma de Bob Marley nos palcos. Se apresenta agora como principal rival do clássico Live (1975), seu primeiro disco ao vivo lançado no auge do estouro mundial, num momento em que quase todo mundo do pop estava gravando reggae naqueles anos, até ícones roqueiros como Rolling Stones e Bob Dylan.

Além da ótima performance do protagonista, o som da maior parte do CD é fiel às qualidades dos Wailers como banda, com grande destaque para os irmãos Carlton e Aston ‘Family Man’ Barrett, que formavam o alicerce rítmico absolutamente poderoso e infalível com sua bateria e baixo, onde nem o uso de tantans eletrônicos que na época tinham virado febre na disco-music e new-wave, tiram o brilho. Marley brinca com as divisões de outro hit de sua lavra, Is This Love, que encerra a parte de ótimo som do registro.

O repertório é bem equilibrado entre temas de guerrilha, mensagens positivas, hinos de fé no rastafarianismo, flertes com a africanidade e canções românticas

Herança

Mas nem só de álbuns é feito o legado de Marley. Com 11 filhos legítimos e mais uns três a usar o seu sobrenome (embora não reconhecidos pela família), seria de esperar que algum iria fazer carreira na música. Não foi um, foram vários.

David ‘Ziggy’ Marley, atualmente com 42 anos, canta como o pai e passa mensagens de paz através das letras das suas músicas. Tem um extenso repertório que vem desde 1985 e já ganhou cinco Grammy Awards. É ativista e líder de uma ONG.

Damian ‘Jr. Gong’ Marley, de 33 anos, é o filho mais novo de Bob. Já ganhou três Grammys. Stephen, 38 anos, faz parte da banda do irmão mais velho, Ziggy, e foi produtor dos três álbuns solo de Damian. Da banda – os Melody Makers – fazem também parte Cedella e Sharon, duas das filhas de Bob.

Julian Marley, 36 anos, também é músico. Tem três álbuns editados. Ky-Mani andou uns tempos dividido entre o futebol e a música, acabando por se render à arte. O seu som, para além de reggae, tem base no hip-hop e sons mais urbanos.

Conexão Brasil

Bob Marley esteve no Brasil uma única vez, em março de 1980. No Rio de Janeiro, ele jogou uma partida de futebol ao lado de Chico Buarque, Toquinho, Moraes Moreira e o craque tricampeão Paulo César. Mas, se infelizmente não passou pela Bahia, vale lembrar que dois artistas da terra já estavam antenados ao jamaicano. Em 1971, no exílio em Londres, Caetano Veloso foi o primeiro brasileiro a citar o reggae em Nine out of Ten, do disco Transa.

Oito anos depois, Gilberto Gil lançou Não Chore Mais, versão para No Woman No Cry, de Bob, que virou um hino da anistia no Brasil. “Bob foi um dos grandes intérpretes dessa consciência de exclusão, de desigualdade”, lembra Gil, que em 2002 gravou Kaya N'Gan Daya, com músicas de Bob. “Foi o último artista a quem dediquei atenção profunda. Hoje ainda é das coisas que mais gosto de ouvir”.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Nenhum aumento será permitido! Campanha Pelo Congelamento das Tarifas de Transporte Coletivo Em Teresina


Nesta sexta-feira (13/05/2011), às 10 horas da manhã, estamos mobilizando todas as entidades para contribuir com o movimento pelo congelamento do preço das passagens de ônibus em Teresina e pela imediata auditoria no sistema de transportes, para que possamos combater os aumentos abusivos e garantir nossos direitos à mobilidade com, segurança, conforto e eficiência.
Este encontro acontecerá na sede da FAMEPI, situada na Rua Magalhães Filho, n° 55, Centro/Norte.
Sua participação nesta campanha contribuirá muito para melhoria dos transportes coletivos em nossa cidade. Vamos pintar as ruas de Teresina de POVO!

Uma das poesias brasileiras mais lindas: "Operário em construção" de Vinícios de Moraes


(Imagem: Cândido Portinari, Operário)
E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo:
– Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu.
E Jesus, respondendo, disse-lhe:
– Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás.
Lucas, cap. V, vs. 5-8.

Era Ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.

De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer o tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.

Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, Cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
- Exercer a profissão -
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.

E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.

E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:

Notou que a sua marmita
Era o prato do patrão
Que a sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que o seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que a sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.

E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.

Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação
-"Convençam-no" do contrário -
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.

Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!

Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.

Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
- Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.

Disse e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
E o operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca da sua mão.
E o operário disse: Não!

- Loucura! - gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
- Mentira! -disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.

E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.

Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem pelo chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Imagens censuradas do atentado no Riocentro de 1981

Galera assisti esse pequeno documentário e fiquei perplexo com as práticas da Ditadura Militar. Vale a pena conferir.

http://grabois.org.br/portal/noticia.php?id_sessao=12&id_noticia=5549

sexta-feira, 6 de maio de 2011

"OBAMA DIZ QUE MATARAM BIN LADEN..."


Charge de Bira para A Charge Online

segunda-feira, 2 de maio de 2011

DEMOCRACIA E GRANDE PARTICIPAÇÃO ESTUDANTIL MARCAM AS ELEIÇÕES DO DCE


Na última semana, 4.722 estudantes construíram uma das eleições mais democrática e participativa de todas para o Diretório Central dos Estudantes – DCE/UFPI. Com grande votação os estudantes consagraram a Chapa 01, “Transformar o sonho em realidade”, como vencedora. A eleição foi uma clara demonstração da vitalidade do movimento estudantil, contrariando aqueles que gostariam que o DCE e Movimento Estudantil não existissem.

A chapa “Transformar o Sonho em Realidade” se apresentou à comunidade acadêmica da UFPI, convidando os estudantes a intensificar o ritmo de mobilizações na construção de uma profunda Reforma Universitária, e a lutar para que sejam investidos 10% do PIB e 50% dos recursos oriundo do fundo social do pré-sal em educação. A chapa vencedora conseguiu obter um total de 2.528 votos e chapa concorrente “Já é tempo de sair do lugar” conseguiu 2.194 votos. O resultado é uma demonstração clara de que os estudantes apóiam a atual gestão do DCE.

TODO O NOSSO REPÚDIO AO OPORTUNISMO

A chapa que perdeu a eleição, revelando grande descompromisso e desrespeito à democracia e os quase cinco mil eleitores que participaram do processo, tenta macular a eleição e aposta todas as fichas em tentar sabotar o DCE, as conquistas dos estudantes, a UNE e todas as grandes lutas tão necessárias para UFPI. Nisso esse grupo se assemelha aos interesses e práticas do Reitor que não tem qualquer apreço pela democracia e nem pela luta estudantil.

Os estudantes, atentos a tudo que acontecem na UFPI disseram não ao autoritarismo, mentira e oportunismo.

sábado, 30 de abril de 2011

Olha aí galera boa parte do Chapão


Gestão 2011/2012 "Transformar o Sonho em Realidade" do Diretório Central dos Estudantes UFPI

“Transformar o Sonho em Realidade” é a chapa vitoriosa para DCE UFPI

A chapa “Transformar o Sonho em Realidade” se apresentou à comunidade acadêmica da UFPI, convidando os estudantes a intensificar o ritmo de mobilizações na construção de uma profunda Reforma Universitária, e a lutar para que sejam investidos 10% do PIB e 50% dos recursos oriundo do fundo social do pré-sal em educação e conseguiu obter um total de 2.528 votos e chapa concorrente “Já é tempo de sair do lugar” conseguiu 2.194 votos.

Nos últimos dias 27 e 28, 4722 estudantes tiveram a responsabilidade de decidir quem deverá conduzir o Diretório Central dos Estudantes – DCE/UFPI em 2011. Depois de quase 15 horas a apuração da eleição acabou no início da tarde desta sexta-feira (29), consagrando a chapa 01, “Transformar o sonho em realidade” como vencedora.

Cássio Borges, integrante da chapa vencedora disse que vão continuar um trabalho que já foi iniciado, já que eles participaram da gestão anterior, que teve 41% da comunidade universitária (estudantes, professores e técnicos administrativos) em pesquisa realidade pela Associação de Docentes da UFPI. “Vamos lutar junto com a União Nacional dos Estudantes – UNE, para que os investimentos que devem vir do Produto Interno Bruto – PIB, e também do Fundo Social do Pré-sal sejam realmente destinados para a educação”. Outro aspecto que vai compor a rotina da chapa vencedora é conquistar maior assistência estudantil para o campus, com a ampliação da residência universitária, aumento das bolsas de trabalho e iniciação científica.

Além disso, Cássio que faz parte da União da Juventude Socialista – UJS, afirmou que a nova gestão vai trabalhar para aumentar as linhas de transporte coletivo para a UFPI. “As linhas de transportes para a Universidade Federal são muito precárias e nós ainda temos regiões onde os alunos têm que pegar dois ônibus para virem para as aulas. Nós vamos trabalhar para que esse número seja aumentado e que pelo menos um ônibus saia de cada zona da cidade com destino à UFPI”.

terça-feira, 22 de março de 2011

Jornada Nacional de Luta da UNE e UBES mobilização estudantes no Piauí


Estudantes Piauienses mobilizados pelas entidades estudantis prometem fazer grandes manifestações no estado durante a Jornada de Luta convocada nacionalmente pela UNE e UBES para essa semana do dia 21 a 25 de março com o tema “A Educação tem que ser 10” cobrando mais investimentos para a educação. As principais bandeiras levantadas pelos estudantes são que o governo destine 10% do PIB e 50% do fundo social do pré-sal para rubrica educação. Isso faz parte de uma pauta bastante ampla e que já está a pleno vapor na Câmara dos Deputados e no Senado Federal na qual irá se discutir e aprovar o novo Plano Nacional de Educação (PNE) que oficializará as diretrizes e metas da educação brasileira para o decênio 2011-2020.

A nível estadual as entidades estudantis sairão as ruas com o tema “A educação no Piauí tem que ser 10”, acrescentando às bandeiras de luta nacional questões de pauta local. Serão tratadas na Jornada Estadual dos Estudantes assuntos como a desestruturação da UESPI e das escolas públicas estaduais, fato que já culminou na greve dos professores do estado e nesta segunda-feira (21/03) os estudantes e professores da UESPI realizaram um ato no Campus Torquato Neto (Pirajá) reivindicando a imediata estruturação das condições de trabalho e aprendizado, mediante a destinação de recursos. A constatação feita pelos manifestantes é que até material de expediente como pinceis para quadro branco e grampos estão faltando na instituição.

Na quarta-feira as entidades estudantis nacionais UNE, UBES, ANPG em conjunto com o movimento estudantil estadual os DCE’s da UFPI, IFPI, FSA, a UMES, o CCEP, grêmios estudantis como o do Col. Agricola de Teresina-CAT, do LICEU e do IFPI e ainda as entidades de juventude UJS, LVJ, JPTB, Brava Gente, Inst. Gandhi pretendem parar a principal avenida da cidade (Frei Serafim) e colocar mais de 4 mil estudantes secundaristas e universitários nas ruas. A concentração inicia às 8 horas da manhã na Praça da Liberdade (em frente ao IFPI) de onde sairão em passeata às 10 horas até a Assembléia Legislativa do Piauí, local que será palco um grande Ato-Show e protestos e reivindicando maiores investimentos na educação piauiense, pelo fim do Jubilamento de estudantes nas Instituições Públicas de Ensino Superior (recentemente o reitor da UFPI expulsou mais de 2 mil estudantes), pela melhoria do transporte público e pela divisão igual dos royalties do pré-sal para os estados. Neste ato os estudantes pretendem provocar as autoridades públicas e conquistar apoio dos deputados estaduais na luta por mais investimentos na educação e apoio para derrubada dos vetos aos projetos que destina 50% do fundo social do pré-sal para educação e divisão igual aos estados do royalties do pré-sal. Ao término do ato terá show de artistas.

E na sexta-feira os estudantes em conjunto com o Diretório Acadêmico “03 de março” da UFPI no Campus Ministro Reis Veloso em Parnaíba pretendem parar a cidade em mais um grande ato da Jornada de Lutas da UNE e da UBES, colocando como pauta municipal a regulamentação e ampliação do transporte público da cidade com a garantia da meia-passagem para os estudantes. Os estudantes vão estar se concentrando a partir das 8 horas da manhã em frente a UFPI e se dirigindo pela Av. São Sebastião até a frente da Câmara de Vereadores procurando envolver no trajeto os estudantes secundaristas como é o caso do Liceu Parnaibano. Ao final da tarde ainda na cidade de Parnaíba diretores regionais das UNE e UBES participam da fundação do DCE de uma Faculdade particular.



PROGRAMAÇÃO DA JORNADA DE LUTA EDUCAÇÃO TEM QUE SER 10 NO PIAUÍ



SEGUNDA-FEIRA (21/03) EM TERESINA

8H MANIFESTAÇÃO DE ESTUDANTES E PROFESSORES PELA MELHORIA DA UESPI – CAMPUS TORQUATO NETO/PIRAJÁ

9H OCUPAÇÃO COLÉGIO AGRICOLA DE TERESINA-CAT / DIVULGAÇÃO NAS SALAS DE AULA - UFPI

10H OCUPAÇÃO INSTITUTO FEDERAL PIAUÍ – IFPI / DIVULGAÇÃO NAS SALAS DE AULA - UFPI / REUNÃO C.A’S DA UFPI

12H REUNIÃO REPRESENTANTES DAS ENTIDADES ESTUDANTIS E JUVENIS NA CMEIE

14H VISITA A IMPRENSA – ENTREVISTA NO JORNAL “O DIA” / DIVULGAÇÃO NAS SALAS DE AULAS - UFPI

TERÇA-FEIRA (22/03) EM TERESINA

8H DIVULGAÇÃO NAS SALAS DE AULAS NAS ESCOLAS LICEU PIAUIENSE E JOÃO CLIMACO – UFPI

12H ENTREVISTA AO VIVO TV CLUBE(GLOBO)

14H DIVULGAÇÃO NAS SALAS DE AULA - UFPI

QUARTA-FEIRA (23/03) EM TERESINA

8H CONCENTRAÇÃO DA PASSEATA NA PRAÇA DA LIBERDADE (EM FRENTE AO IFPI)

10H SAÍDA DA PASSEATA RUMO ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO PIAUÍ PELA AV. FREI SERAFIM

12H ATO-SHOW EM FRENTE A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO PIAUÍ

QUINTA-FEIRA (24/03) EM PARNAÍBA

8H DIVULGAÇÃO NAS SALAS DE AULAS NAS ESCOLAS LICEU PARNAIBANO E UFPI

14H DIVULGAÇÃO NAS SALAS DE AULAS NAS ESCOLAS LICEU PARNAIBANO E UFPI

SEXTA-FEIRA (25/03) EM PARNAÍBA

8H CONCENTRAÇÃO PRAÇA EM FRENTE DA UFPI - PARNAÍBA

9H SAÍDA PARA CÂMARA MUNICIPAL DE VEREADORES

10H ATO EM FRENTE A CÂMARA MUNICIPAL DE VEREADORES

14H CONSELHO DE ENTIDADE DE BASE-CEB DA UFPI DE TERESINA PARA ELEIÇÃO DA COMISSÃO ELEITORAL DO DCE

17H FUNDAÇÃO DO DCE DA FACULDADE PIAUIENSE – FAP

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Conjuntura: A votação do Salário Mínimo e o recado do governo Dilma


Publicado em fevereiro 22, 2011 por HC

Dilma Rousseff saiu vitoriosa naquele que foi considerado o primeiro grande teste do seu governo: a aprovação do valor do salário mínimo de R$ 545,00. Não houve concessões. Dilma mostrou-se inflexível. Uma dureza que não se viu no governo Lula. A obstinação com que o governo buscou a aprovação do salário mínimo sem concessões dá indicações do modo de pensar e proceder da presidenta Dilma e mais do que isso, do seu projeto de governo.
A intepretação política da aprovação do mínimo precisa ser “lida” simultâneamente ao anúncio do corte de R$ 50 bilhões no orçamento. A inflexibilidade na negociação do valor do mínimo é um recado para o mercado e o conjunto da sociedade de que o ajuste fiscal proposto pelo governo é para valer. O Palácio do Planalto elegeu o mínimo como a âncora fiscal do início de governo. Salário mínimo e ajuste fiscal tornaram-se faces de uma mesma moeda: “Essa votação é vida ou morte. Sinaliza austeridade num tema que é popular. O simbólico é mais importante”, preconizava o deputado José Mentor (PT-SP) antes da votação do mínimo.
“Bancar o mínimo de R$ 545 foi a cartada mais ousada da presidente Dilma Rousseff até agora. Uma derrota indicaria que o prometido ajuste nas contas federais não é para valer. O recado formaria uma nuvem escura sobre as perspectivas de crescimento econômico do País”, destaca a jornalista Lu Aiko Otta. A tese da consolidação fiscal sai vitoriosa com a aprovação do salário mínimo de R$ 545,00.
A votação do mínimo para além do debate econômico, manifesta ainda o jeito de governar de Dilma ao estilo “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. A votação do salário mínimo, portanto, emite sinais para fora, para a sociedade do que pretende o governo, e para dentro, para a base aliada. Dessa votação emblemática viu-se ainda o silêncio de forças políticas importantes como a CNBB, as Pastorais Sociais e o MST e a postura confusa do movimento sindical, única força política do movimento social a contestar a posição do governo, porém emitindo sinais contraditórios.
O jogo pesado do governo
A vitória folgada do governo na votação do mínimo na Câmara dos Deputados não foi um caminho fácil. O governo teve que utilizar de todo o seu peso para que o projeto fosse aprovado sem alterações e além das exaustivas negociações, barganhou com indicações para o preenchimento de cargos no primeiro e principalmente no segundo escalão.
Na articulação da aprovação do mínimo como postulava o governo, os principais ministros de Dilma entraram em ação: Gilberto Carvalho, Guido Mantega e Antonio Palocci. O ministo da secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, assumiu a negociação com o movimento sindical; Guido Mantega, ministro da Fazenda, foi escalado para esgrimir os argumentos econômicos e Palocci, da Casa Civil, cuidou da interlocução com os partidos políticos.
Teve ainda papel destacado no processo de aprovação do mínimo, o vice-presidente Michel Temer. Toda a articulação foi acompanhada pessoalmente por Dilma e quando necessário entrou em ação, como na conversa com o ministro Carlos Lupi, ministro do Trabalho e um dos núcleos de resistência ao projeto.
A inflexibilidade e dureza do governo no debate do mínimo ficaram claros quando o ministro Gilberto Carvalho, destacado por Dilma para negociar com as centrais sindicais, após intensas e longas negociações com o movimento sindical mandou um recado desde Dacar – Carvalho viajou para o Senegal como representante do governo no Fórum Social Mundial – para as centrais: “Na questão do mínimo, nós entendemos que não há mais negociação. Vamos reafirmar os R$ 545,00”. Gilberto Carvalho, evidentemente, não emitiu o recado por conta própria.
A polêmica
A polêmica entre as centrais e o governo começou pelo valor e pelo acordo verbal estabelecido ainda no governo Lula de que o aumento do salário mínimo seria reajustado com base na inflação acumulada em um ano, mais o percentual do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do ano anterior. Como em 2009 o PIB brasileiro encolheu, em 2011, o acordo estabelece que o salário mínimo seria reajustado com base somente na inflação. Isso resultou no valor de R$ 545,00. As centrais passaram a insistir em R$ 580,00 e acusaram o governo de pouca vontade e ruptura no processo de valorização do salário mínimo.
“Estamos incomodados com o início do governo Dilma. É uma tentativa do mercado de mandar em tudo e não vamos concordar com isso”, disse o presidente da Força Sindical, deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho. “Essa reunião foi frustrante”, resumiu. O sindicalista afirmou que Lula inaugurou uma política de valorização dos mais pobres e “sempre interveio em favor dos trabalhadores”.
O presidente da União-Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, endossou o discurso de Paulinho. “Estamos um pouco surpresos. Ela (Dilma) não nos atendeu ainda e engessou as negociações. Isso está dificultando muito”, reclamou. Já o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique da Silva, destacou que os sindicalistas não vão abrir mão do aumento real do salário mínimo e da correção da tabela do IR. “Queremos a continuidade do que foi feito no governo Lula“, afirmou.
O governo respondeu com o discurso de manutenção do acordo: ”Não é verdade que haja uma ruptura”, disse Carvalho. As centrais têm dificuldade em manter o acordo pelo fato de o PIB de 2009, com a crise internacional, ter sido 0,6% negativo”. O governo havia cogitado antecipar parte do reajuste que seria aplicado em 2012, mas a ideia foi abandonada. “Eles querem uma exceção para 2011. Aí fica uma negociação aleatória”, disse Guido Mantega.
Um apoio forte aos argumentos do governo veio do ex-presidente Lula ao afirmar que os sindicalistas estavam sendo oportunistas. Lula lembrou a participação dos sindicatos na discussão do acordo que resultou na atual política de reajuste do mínimo. “Isso foi um acordo feito com os dirigentes sindicais quando o Luiz Marinho era o ministro da Previdência. Foi combinado que o reajuste seria feito com base no PIB e na inflação até 2023 para que a gente pudesse recuperar definitivamente o salário mínimo”, e ascrescentou: “O que não pode é nossos colegas sindicalistas quererem a cada momento mudar as regras do jogo. Ou você tem uma regra, aprova na Câmara e vira lei e todo mundo fica tranquilo, ou você fica como o oportunista”, disse Lula.
Reconhecendo o acordo, o presidente da CUT, Artur Henrique, contra-argumentou lembrando que quando sobreveio a crise econômica internacional o governo adotou uma série de excepcionalidades e que poderia adotar o mesmo critério: “A mesma excepcionalidade com que o governo tratou a indústria, as instituições financeiras na época da crise deve ser aplicada agora ao salário mínimo. Não dá para usar o salário mínimo como forma de conter inflação”, disse ele.
Percebendo a inflexibilidade do governo, as centrais optaram pela estratégia de tentar aumentar o mínimo para R$ 560,00. O governo, porém, percebendo que ganhava força a tese dos R$ 545,00 aferrou-se à sua proposta e acrescentou a ela ainda uma nova ideia, transformar o acordo informal entre centrais e governo – reajuste do salário mínimo levando em conta a inflação e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do ano anterior – em projeto de lei.
Manter uma regra acordada entre sindicatos, trabalhadores, empresas e governo é defendida por muitos como forma de definitivamente estabelecer uma política de valorização do salário mínimo. É o que defende, por exemplo, o economista Claudio Dedecca em entrevista ao IHU. Segundo ele, ”é preciso abandonar a postura de pensar o Brasil a curto prazo”. Na opinião do economista, preservar a política de reajuste progressivo do salário mínimo com base no crescimento econômico do país é a alternativa mais eficaz para garantir, a longo prazo, um salário condizente com as necessidades dos trabalhadores.
O preço político do mínimo
Como estratégia final o governo escolheu o deputado Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (PT-SP), para ser relator do projeto. Vicentinho, que foi presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), colocou-se contra a central que presidiu e assumiu sem constrangimentos a tarefa: “Recebi a tarefa de relatar o projeto do mínimo, mas não sinto qualquer dificuldade em assumir essa relatoria e debater o assunto com as centrais”.
Durante a sessão de aprovação do mínimo, ao defender a proposta do governo o ex-sindicalista foi vaiado. Depois afirmou que se sentia recompensado por cumprir uma missão como verdadeiro petista. O ex-presidente da CUT recebeu o agradecimento de Dilma Rousseff e até, contraditóriamente, do atual presidente da CUT Artur Henrique: “Vicentinho não foi eleito apenas por ‘cutistas’. Vários trabalhadores de outras centrais também votaram nele, além de ele representar outras lutas, como contra o racismo”, disse Artur procurando amenizar a postura vexatória de Vicentinho.
A estratégia determinante, entretanto, para a aprovação do mínimo como queria o governo foi o adiamento das nomeações do segundo escalão federal e a liberação de recursos para as emendas dos parlamentares. Nos primeiros 11 dias de fevereiro, às vésperas da votação do valor do novo salário mínimo, o governo pagou um total de R$ 653,7 milhões de gastos autorizados ou ampliados por meio de emendas parlamentares. O ritmo de liberação de verbas públicas nesse período aumentou 441% em relação a janeiro. O exemplo de um dos agraciados: “Fui premiado”, disse Chico da Princesa (PR-PR), contemplado com a liberação de R$ 1,7 milhão para programas de saúde no Paraná e a construção de cartório eleitoral no município de Joaquim Távora.
A fidelidade de toda a bancada do PMDB à presidente Dilma Rousseff na aprovação do salário mínimo de R$ 545 pela Câmara também teve um preço. O partido voltou a cobrar a nomeação de afilhados da legenda no segundo escalão do governo, principalmente aqueles que já estavam pré-negociados, mas foram adiados pela presidente até a eleição dos presidentes da Câmara e do Senado e da votação do salário mínimo.
Entre os exemplos de “pagamento ao PMDB” pela fidelidade, o partido aguarda a nomeação, entre outros, de: Henrique Meirelles (Autoridade Pública Olímpica), Geddel Vieira Lima (vice-presidência de Governo e de Loterias da Caixa), Orlando Pessuti (vice-presidência de governo do Banco do Brasil), Sérgio Dâmaso (Departamento Nacional de Produção Mineral), Marcos Lima (diretoria de Furnas), Jorge Luiz Zelada (Diretoria Internacional da Petrobrás), Paulo Roberto da Costa (diretoria de Abastecimento da Petrobrás), Ruy Gomide (Coordenador regional da Funasa em Goiás), Elias Fernandes (diretoria-geral do Departamento Nacional de Obras contra as Secas – Dnocs). Evidentemente que por detrás desses nomes estão caciques nacionais e regionais do PMDB.
Um dos nomes que mais sai fortalecido do PMDB junto ao governo é o vice-presidente Michel Temer. O PMDB foi o partido mais fiel ao governo na votação do salário mínimo de R$ 545,00. Os 77 deputados do partido votaram fechados contra as propostas de um valor maior. O PT, por sua vez, registrou duas dissidências a favor do mínimo de R$ 560,00. Por detrás dessa unanimidade do PMDB encontra-se Temer. Foi dele também a ideia de apresentar um projeto de lei, ao invés de votar a medida provisória de R$ 545,00, furando a fila das 10 MPs que trancavam a pauta da Câmara. Por outro lado, quem sai chamuscado da votação foi o ministro do Trabalho Carlos Lupi do PDT. Lupi não conseguiu garantir a coesão do partido junto ao governo e deve perder força e espaço.
Tese do ajuste fiscal sai vitoriosa
O leitmotiv central para a inflexibilidade e insistência do governo na aprovação do mínimo de R$ 545,00 foi o ajuste fiscal, particularmente o medo de perder o controle sobre a inflação. O homem forte da economia no governo Dilma, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, deu o recado de que não aceita perder o controle da inflação no seu primeiro ano de mandato. A inflação oficial de 5,9% em 2010, a maior em seis anos, foi decisiva na decisão da presidente Dilma Rousseff de não aceitar negociar um valor maior para o mínimo.
A aprovação de um mínimo que mal reporá a inflação, a possível elevação da taxa de juros, e o corte drástico de R$ 50 bilhões no orçamento, inserem-se num mesmo quadro: desacelerar a economia. A justificativa nem sempre explicitada dos cortes é que isso reduz a quantidade de dinheiro em circulação na economia e reduzindo a atividade econômica, controla-se a inflação.
Num raro arroubo de transparência, a secretária de Orçamento do Ministério do Planejamento, Célia Corrêa, afirmou que “com R$ 50 bilhões não fica muita coisa de pé”, numa referência ao corte do orçamento. Com os cortes, “o país adia outra vez a possibilidade de mudar de patamar no ritmo e na qualidade do crescimento”, diz Vinicius Torres Freire. O crescimento para 2011 e 2012 deve recuar e o PIB cair.
No debate, portanto, sobre o mínimo venceu a tese do ajuste fiscal. Evitar uma elevação do mínimo tornou-se peça emblemática da consolidação fiscal. Algo explicitado pelo ministro Gilberto Carvalho: “Não faremos loucura. O corte de R$ 50 bilhões no Orçamento da União mostra a gravidade da situação fiscal e, ao mesmo tempo, a seriedade do governo”. O mesmo disse Mantega: “Não temos condições, do ponto de vista fiscal, de aumentar a despesa em relação ao que ela é”.
O ministro Gilberto Carvalho comparou ainda o esforço fiscal do atual governo com o ajuste feito em 2003, primeiro ano do governo Lula. Na oportunidade, com receio de que a crise econômica se agravasse com a inflação recrudescendo, a paridade U$ 1,00 = R$ 4,00 e o risco Brasil aumentando, o governo além de nomear Henrique Meirelles para o Banco Central, aumentou a taxa de juros de 25% para 25,5% e depois 26,5%. O superávit primário de 3,5% para 3,75% e posteriormente para 4,25%, e fez cortes no orçamento no montante de R$ 14 bilhões que chegaram a atingir a área social.
A postura agressiva do governo na votação do mínimo emitindo um sinal que não relaxará com a “agenda fiscal” pode trazer a médio prazo dissensões internas. O comentarista político Cristiano Romero, destaca que “passado o primeiro mês e meio da gestão Dilma Rousseff, já é possível enxergar, dentro do governo, pelo menos dois grupos com visões distintas sobre a economia. Um deles defende a ideia de que, para combater a inflação, o setor público tem que apertar o cinto agora e, assim, contribuir para conter a demanda agregada da economia. O outro teme que uma contração fiscal forte, combinada com o aperto monetário que o Banco Central (BC) começou a promover em janeiro, derrube o Produto Interno Bruto (PIB), reduzindo drasticamente a taxa de crescimento”.
Segundo ele, “no primeiro grupo, estão o presidente do BC, Alexandre Tombini, e, de maneira muito discreta, o ministro-chefe da Casa Civil, Antônio Palocci. No segundo, estão o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e seu secretário-executivo – e principal formulador na equipe econômica -, Nelson Barbosa”. Os embates já teriam começado, relata o comentarista político.
Nesse debate, Guido Mantega ficou numa situação difícil. Reconhecido como desenvolvimentista teve que agir como fiscalista. A postura zigue-zague de Mantega, explica-se em função do debate interno no governo. Parte da equipe da Fazenda avalia que os cortes prometidos e os que virão – se o ajuste fiscal for para valer – reduzirão os investimentos e afetarão a atividade econômica. Esses técnicos defendem um norte mais claro para a política econômica do governo Dilma. Para esse grupo, o ministro estaria errando no tom ao apoiar a tese de que o aumento dos gastos públicos tem papel decisivo no aumento da demanda.
A visão contraposta diz que a inflação em alta estaria mais associada a mudanças estruturais na economia brasileira, que ainda não foram atacadas. Um exemplo seria a política de reajustes reais do salário mínimo – 53% no governo Lula -, que teve papel decisivo nos últimos anos para o aumento da distribuição de renda. Esses aumentos é que estariam agora puxando a inflação.
O debate apenas começou. Dilma, ao menos no ínicio de seu governo, e reeditando Lula quando também do início do seu governo, optou pela ortodoxia.
O jeito Dilma Rousseff de governar
A pauta do salário mínimo revelou também o jeito de governar de Dilma. Pela imprensa Dilma vem sendo descrita como a presidente da discrição. Passou o primeiro mês de mandato quase silenciosa e afeita a reuniões reservadas. Em contraposição à Era Lula que se manifestava várias vezes ao dia, Dilma mostrou-se econômica no uso das palavras.
Ao contrário de Lula, que tinha uma relação de amizade e de informalidade com os petistas próximos, com Dilma o tratamento é quase protocolar. De acordo com informação de auxiliares da presidente, destaca a imprensa, ela procura não fazer distinção entre um ministro petista e um de outro partido e procura se ater mais aos objetivos traçados para as pastas dando ênfase na cobrança de números e detalhes de projetos e ações – característica já conhecida da época da Casa Civil.
Diz-se ainda que, ao contrário de Lula, que fazia festa toda vez que se encontrava com velhos militantes petistas, Dilma não age assim. Até porque não teve origem no PT, mas no PDT de Leonel Brizola. Lula gostava de falar de pescarias, futebol e do tempo de sindicato. Dilma prefere falar de artes, literatura e música. Destaca ainda a imprensa que Dilma cobra silêncio de ministros e assessores diante da mídia e é dura com os auxiliares, não admitindo dúvidas e respostas que começam com “eu acho”.
O estilo Dilma de governar vem se manifestando nas nomeações de governo e também por ocasião da votação do mínimo. A dispusta por Furnas é citada como um dos exemplos do estilo Dilma. A presidenta não admite disputas pela mídia nem ter sua autoridade questionada: “Não aceito. Vou dizer de novo: não, não e não!”, disse Dilma sobre as indicações do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) não só para Furnas, mas também para todos os cargos do setor elétrico. Dilma teria ainda enfrentado o PC do B ao indicar o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles para presidir a Autoridade Pública Olímpica. Na interlocução para as nomeações privilegia os partidos e quem tem força neles. No caso do PMDB os interlocutores priveligiados são José Sarney e Michel Temer.
No caso da votação do mínimo, Dilma teria comandado pessoalmente toda a estratégia de ação. O recado do líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), de que “quem votar contra os R$ 545 será considerado dissidente”, seria um recado da própria Dilma Rousseff. Também teria partido de Dilma o fim da negociação e antecipação da votação do mínimo, como ficou manifesto no recado enviado pelo negociador Gilberto Carvalho desde Dacar (Senegal).
Ainda segundo a imprensa, a presidente teria ficado irritada com a postura titubeante do ministro Carlos Lupi. O ministro, da cota do PDT, não irá cair ao menos no momento, mas sai enfraquecido junto ao governo.
O silêncio do movimento social
O silêncio da Igreja
Durante todo o processo de debate e embate do salário mínimo surpreendeu o silêncio do movimento social, particularmente das forças sociais comprometidas com a superação da desigualdade na sociedade brasileira. Um exemplo claro foi o da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB. Na mesma quarta-feira, dia 16 de fevereiro, em que o Congresso votava o salário mínimo de R$ 545,00, o Conselho Episcopal Pastoral da CNBB (Consep), orgão máximo diretivo da entidade, abaixo apenas de sua Assembleia, encontrava-se reunido e não se manifestou sobre o salário mínimo – a principal agenda em pauta no país.
Os bispos, entretanto, divulgaram uma nota no final da mesma tarde em que a poucas centenas de metros se debatia o salário mínimo, manifestando-se sobre o “baixo nível moral que se verifica em alguns programas das emissoras de televisão” – citando especialmente os reality shows “que têm o lucro com seu principal objetivo”.
A Igreja, e particularmente em seu interior as pastorais sociais, possuem longa tradição de manifestar-se sobre a realidade do mundo do trabalho. Em função disso, estranha-se o silêncio. Ainda mais porque o tema do salário mínimo sempre foi caro ao debate interno no mundo da Igreja. Basta lembrar as campanhas lideradas, outrora, pela Pastoral Operária. Aliás, Gilberto Carvalho, foi um dos fundadores da Pastoral Operária do Paraná, nos idos de 1970, e, depois, atuou como ‘liberado’ na Pastoral Operária Nacional.
O valor do salário mínimo, como destaca Raquel Júnia, aponta “a necessidade de se pensar os direitos constitucionais dos brasileiros, como o direito à educação e à saúde”. Segundo ela, o valor que “a Câmara dos Deputados aprovou e vigorará durante todo o ano de 2011 é de apenas R$ 5 reais a mais do que era em 2010, alguns reais a menos do que pediam algumas das centrais sindicais e exatamente R$ 1.649,76 reais a menos do que o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) aponta como o salário mínimo necessário para garantir as necessidades vitais básicas dos brasileiros e suas famílias, conforme define a Constituição do país”.
Destaca ainda que de acordo com o Dieese, cerca de 47 milhões de brasileiros são remunerados com valores referenciados no salário mínimo e lembra o texto constitucional que diz que o salário mínimo deve ser fixado em lei, e deve ainda ser “nacionalmente unificado, capaz de atender às suas necessidades vitais básicas e às de sua família, como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, reajustado periodicamente, de modo a preservar o poder aquisitivo, vedada sua vinculação para qualquer fim”. É exatamente esse conteúdo que sempre foi caro às pastorais que ficou deixado de lado.
Tampouco o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, sempre atento à agenda política do país, manifestou-se sobre o debate do mínimo.
A pressão moderada das centrais
Contraditoriamente, coube às centrais sindicais que sempre foram acusadas de pouca sensibilidade com a pauta do salário mínimo, e ao seu jeito, o enfrentamento de contestação ao mínimo do governo. Quando se afirma “ao seu jeito”, deve-se ter presente que as mesmas vivem um dilema.
Ao mesmo tempo em que reivindicam o aumento real do salário mínimo para atender suas bases, descartam afastar-se do governo federal e evitam o confronto direto com a presidente. O movimento sindical pretende influenciar os rumos da política econômica da gestão Dilma, mas não quer perder conquistas dos últimos anos, como o caixa das centrais reforçado pelo repasse do imposto sindical e a participação no governo.
O resultado foi pressão moderada das centrais. “Não vamos romper. Somos parceiros e apoiamos Dilma“, diz o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PDT-SP), presidente da Força Sindical. A mesma postura teve a CUT que fez o enfrentamento no debate ideólogico mas evitou “esticar por demais a corda”.
Para o sociólogo Ricardo Antunes, a postura moderada das centrais deve-se à perda de autonomia das centrais nos últimos anos: “As centrais dependem do governo e estão cooptadas. Contestam o reajuste sem confrontar o governo, porque querem participar dele, aumentar o espaço do ‘trabalho’ [no Planalto]“, diz.
Que esquerda?
O Partido dos Trabalhadores – PT apresentou resolução defendendo o mínimo de menor valor. A Central Única dos Trabalhadores – CUT moderou o enfrentamento. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST sequer se manifestou. A CNBB e as pastorias sociais também passaram ao largo do principal debate no último mês e meio. A votação do salário mínimo evidencia uma esquerda errática, confusa e perdida.
Em outros tempos, essas mesmas forças sociais não teriam titubeado e teriam sido enérgicas na crítica ao aumento insignificante do mínimo. Lideranças expressivas do movimento social, como Vicentinho (ex-presidente da CUT) e Gilberto Carvalho, entre tantos, esgrimam argumentos para justificar o que em outros tempos teriam duramente criticado.
Nesses mesmos dias de intenso debate sobre o salário mínimo e inversões de posicionamento, outro fato conjuntural que passou despercebido por muitos aconteceu na esplanada dos ministérios: a audiência entre caciques e lideranças ribeirinhas com os representantes do governo Federal para debater a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte.

O relato da audiência feito pelo jornalista Leonardo Sakamoto é esclarecedor por si só. Reproduzimos trechos do relato:
“Raoni Metuktire fez um longo discurso em kayapó sobre o fato do governo mexer com o que não conhece e derrubar matas para depois ficar refém de ventos e chuvas que tudo inundam e com tudo acabam. O dedo de Raoni esteve por longos minutos no nariz de Sotilli [Rogério Sotilli, secretário executivo da Secretaria Geral da Presidência].
- “Fico triste em ouvir críticas aos governos Lula e Dilma”, disse Sottili. “Lula prometeu que não enfiaria Belo Monte goela abaixo das populações do Xingu. Sempre ouvi dizer que houve muito diálogo. Talvez, com o que vocês dizem agora, não foi tanto assim…” – ponderou. Prometeu que, a partir de agora, estarão garantidos os diálogos.
Mas depois adiantou o que esperar das conversas: “Dilma fará o que tem que ser feito” E: “Dilma tem que pensar o Brasil como um todo, atender todos os interesses, incluir toda a nação…” E mais ainda: “Garanto que vamos dialogar, mas claro, podemos não chegar a um consenso”.
Pouco depois, lá fora, no concreto da praça dos Três Poderes, debaixo de um sol de rachar, caciques e lideranças ribeirinhas prestaram contas aos manifestantes reunidos com faixas e cartazes. Algo do tipo: o povo do governo explicou que dialogar significa que a gente tem o direito de falar, eles vão ouvir mas, no final, a gente vai ter que sair das nossas terras de qualquer jeito”.
Conjuntura da Semana em frases
Salário Mínimo
“A decisão da presidente Dilma Rousseff de declarar encerradas as negociações com as centrais sindicais e os partidos da base sobre o reajuste do salário mínimo de 2011 – fincando pé no valor fixado de R$ 545 – é uma demonstração de autoridade e coerência política. Não é pouca coisa para quem tem léguas a percorrer na construção de um estilo de liderança pessoal que resgate a sua imagem da sombra do seu padrinho e grande eleitor Luiz Inácio Lula da Silva” – editorial “O estilo de Dilma no caso do mínimo” – O Estado de S. Paulo,10-02-2011.
Vida ou morte
“Essa votação é vida ou morte. Sinaliza austeridade num tema que é popular. O simbólico é mais importante” – José Mentor, deputado federal – PT-SP, sobre a votação do salário mínimo – O Globo, 09-02-2011.


Calculadora do inimigo
“Num país que precisa crescer extraordinariamente a ortodoxia econômica pode ser uma distração. Um governo cuja prioridade declarada é eliminar a miséria do país não pode fazer isso usando uma contabilidade convencional, ou a calculadora do inimigo” – Luís Fernando Verissimo, escritor – O Estado de S. Paulo, 17-02-2011.
Vilão
“Queria deixar claro que aqui não tem a ala boazinha nem a ala malvada. É todo mundo governo” – Guido Mantega, ministro da Fazenda, na reunião com as centrais sindicais que contou com a presença dos ministros Gilberto Carvalho (secretaria geral da Presidência) e Carlos Lupi (Trabalho) - Folha de S.Paulo, 05-02-2011.
18 dias
“Para ganhar, a gente teria de dormir 18 dias na praça” – Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical e deputado federal – PDT – SP, sobre a votação do salário mínimo, ontem, na Câmara – Folha de S. Paulo, 17-02-2011.
Figurino
“Estou adorando esta sua camiseta de sindicalista. Só falta o capacete” – Paulo Teixeira, líder do PT, provocando o colega do DEM, ACM Neto (BA), defensor dos R$ 560 – Folha de S. Paulo, 17-02-2011.
Outdoors
“O PSDB vai espalhar, estes dias, outdoors nas grandes cidades com os nomes dos deputados do PT que votaram contra o aumento do salário mínimo. Igual ao que o PT fazia nos tempos de oposição” – Ancelmo Gois, jornalista – O Globo, 17-02-2011.
Jornal
“Se o PDT votar pelos R$ 560, o Lupi vai voltar a vender jornal” – Sílvio Costa (PTB-PE), deputado federal. Antes de entrar na política, Lupi era dono de banca de jornal no Rio de Janeiro – O Estado de S.Paulo, 16-02-2011.
Feeling
” A relação da presidente com o Congresso dependerá da relação dela com a rua. Se o país estiver bem, o Congresso estará bem. O Congresso tem um ‘feeling’ perfeito e não joga contra quem está bem com a sociedade” – Jaques Wagner, da Bahia – PT – Valor, 15-02-2011.

Orçamento
“A ideia, discutida na reunião de coordenação do governo, é que os ministros sofram calados” – Renata Lo Prette, sobre corte de R$ 50 bilhões no Orçamento de 2011 – Folha de S.Paulo, 15-02-2011.
Papagaio
“Papagaio velho não aprende a falar” – ministro referindo-se a Paulo Paim, senador – PT-RS, que insiste em negociar um valor maior para o salário mínimo – O Globo, 12-02-2011.
Charme
“Do jeito que a coisa vai, Dilma pode chegar ao fim do ano mais candidata a unanimidade do que o próprio padrinho Lula. Os bancos estão saciados, os economistas, crédulos, e a população não reclama. A imprensa nacional é cheia de elogios, a internacional já badala até o seu “charme” – Eliane Cantanhêde, jornalista – Folha de S. Paulo, 18-02-2011.
“Amiga, amiga…”
“Feliz da vida com o apoio total do PMDB ao governo na votação do salário mínimo, Dilma Rousseff pretende seguir adiante na política de adestramento do principal partido de sua base aliada. Quer ensiná-lo agora a dar a patinha e se fingir de morto” – Tutty Vasques, humorista – O Estado de S. Paulo, 18-02-2011.
Qual é…
“Já são vários os casos de grandes empresários que tentaram e ainda não conseguiram ser recebidos por Dilma no Planalto. De tanto insistir, um deles, frequentador do palácio na era Lula, foi aconselhado por auxiliares da presidente a dar um tempo” – Renata Lo Prete, Folha de S. Paulo, 13-02-2011
…o assunto?
“Ela não recebe pessoas. Ela recebe pautas” - um antigo observador dos modos de Dilma – Folha de S. Paulo, 13-02-2011.
Falar bem…
“Falar bem de Dilma pode ser uma maneira sutil de continuar falando mal de Lula. Em suma: muitos dos elogios feitos não são para Dilma, mas contra Lula” – Zuenir Ventura, escritor – O Globo, 12-02-2011.
Adorando
“Estou adorando Dilma. Lula era muito show business. Dilma mandou guardar a Bíblia e o crucifixo, adiou a decisão sobre a compra dos caças, portou-se magnificamente bem na Argentina” – Caetano Veloso, compositor e músico – O Globo, 06-02-2011.
Diferentes
“Não tem modelo pior ou melhor. São estilos muito diferentes. O Lula era palanqueiro e Dilma, não” – José Eduardo Dutra, presidente nacional do PT – O Globo, 06-02-2011.
Ética
“A ética para mim não tem sido só palavras, mas exemplo de vida inteira” – José Sarney, eleito pela 4ª vez presidente do Senado – Folha de S.Paulo, 02-02-2011.
Tarifa
“Desde 2006, a tarifa aumentou 50%, enquanto a inflação do período foi de 30%. Atualmente, até a parcela de uma motocicleta pode ser mais barata que o gasto mensal com a passagem de ônibus” – Lucas Monteiro de Oliveira e Nina Cappello Marcondes, militantes do Movimento Passe Livre, sobre o aumento da tarifa de R$ 2.70 para R$ 3,00 em São Paulo – Folha de S.Paulo, 16-02-2011.
Pelé no banco de reservas
“Homem forte de Lula mantido no governo Dilma, Gilberto Carvalho dizia orgulhoso no início do ano: “Temos um Pelé no banco de reservas”. O jogo mal começou e o rei já quer matar a bola no peito” – Fernando de Barros e Silva, jornalista – Folha de S. Paulo, 09-02-2011.
Xingu
“O Parque Indígena do Xingu talvez seja o maior patrimônio do Brasil hoje. Mais valioso que todo o petróleo, soja, carne, ferro que tiramos do nosso solo, ou todo automóvel, motocicleta, geladeira que fabricamos” – Cao Hamburger, cineasta, diretor do filme “Xingu” – Folha de S.Paulo, 06-02-2011.
“O que está protegido ali é um novo paradigma de como o ser humano pode e deve viver. Se nossos dirigentes tivessem interesse em entender a cultura dos indígenas, abortariam qualquer projeto que os ameaçasse, como Belo Monte” – Cao Hamburger, cineasta, diretor do filme “Xingu” – Folha de S.Paulo, 06-02-2011.
Água mole
“O que está acontecendo no Egito é simples: água mole em pedra, dura tanto bate até que fura. Chegou uma hora em que o povo falou: “Eu existo, quero participar” – Luíz Inácio Lula da Silva, ex-presidente da República – Folha de S. Paulo, 08-02-2011.
Pirâmide social invertida
“E diz que a pirâmide social do Egito é de cabeça pra baixo!” – José Simão, humorista – Folha de S.Paulo, 02-02-2011.
Agito
“E o Egito? O Egito mudou de nome pra AGITO!” – José Simão, humorista – Folha de S.Paulo, 01-02-2011.
Dignidade
“As pessoas querem liberdade e o fim desse sistema atolado em corrupção. Trata-se acima de tudo de uma luta pela nossa dignidade” – Ghian Fadel, 30 anos, atriz, sobre a manifestação do povo egípcio – Folha de S.Paulo, 02-02-2011.
Alarmante
“O número de suicídios tentados e consumados na cidade de São Paulo cresceu nada menos que 62,8% nos últimos dez anos, segundo dados do Ministério Público. Em 2000, de acordo com os boletins de ocorrência da capital, foram registrados 581 casos. Ano passado, o número pulou para 946: uma triste média de quase três mortes por dia.No mesmo período, a população da cidade cresceu apenas… 5,78%, como mostra o IBGE” – Sonia Racy, jornalista – O Estado de S. Paulo, 08-02-2011.
Alarmante 2
“Mauricio Lopes, promotor do júri, investigará as regiões da cidade mais sensíveis a este tipo de morte. Agora por meio da Promotoria de Habitação e Urbanismo, onde se encontra. Pretende analisar ofertas públicas de lazer, saúde e convivência social à disposição da população. “Esta cidade está matando as pessoas de infelicidade”, avalia – Sonia Racy, jornalista – O Estado de S. Paulo, 08-02-2011.
Porto Alegre
“Sou partidário de que o próximo FSM seja em Porto Alegre por uma razão muito prática. O Fórum tem uma cultura ainda muito precária e a desordem relativa deste ano é um golpe forte para ele. Por isso seria necessário que o próximo funcionasse como um relógio, com tradução e programa” – Eduardo Lander, sociólogo venezuelano, um dos organizadores do FSM de Caracas – O Globo, 14-02-2011.
Bullying
“E a última, ops, a penúltima do Sarney. Influenciado pelo Ronaldo, Sarney confessa: “Tenho uma doença chamada HIPERNEPOTISMO!”. Então ninguém pode falar mal. É como o Ronaldo! Agora fazer piada de gordo com o Ronaldo é “bullying”! Há um mês, pichavam nos muros: Ronaldo Gordo. Agora é “bullying”. E dizer que o Sarney nomeia a parentada é “bullying”" – José Simão, humorista – Folha de S. Paulo, 18-02-2011.
Despedida
“Ao ‘se matar’ ontem à tarde, o Fenômeno angariou simpatia quase unânime. Parecia querer repetir o efeito obtido pelo presidente Getúlio Vargas ao se suicidar em 1954” – Rodrigo Mattos, jornalista – Folha de S.Paulo, 15-02-2011.
Sucesso e fracasso
“O sucesso do governo Dilma é o meu sucesso. O fracasso de Dilma é o meu fracasso” – Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente da República – O Estado de S. Paulo, 11-02-2011.
Volta à realidade
“QUE GENTE TODA É ESSA NO NOSSO AVIÃO?” Dona Marisa Letícia, ao embarcar ontem com Lula no primeiro voo comercial do casal nos últimos 8 anos” – Tutty Vasques, humorista – O Estado de S. Paulo, 10-02-2011.
(Ecodebate, 22/02/2011) publicado pelo IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

sábado, 12 de fevereiro de 2011

"AudioOk - A Comunidade Virtual da Música"

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

PHA: calma, Miriam Leitão! Não há revolução via web ou celular

Este ansioso blogueiro teve a infelicidade de assistir ao Bom (?) Dia Brasil, esta manhã. (Não seria gentil desligar a tevê da cozinha …) E viu, perplexo, a urubóloga Miriam Leitão exibir um gráfico sobre a venda de celulares no Egito.

Por Paulo Henrique Amorim, no blog Conversa Afiada
Um espanto. O Renato e a Renata pareciam diante de um milagre de Fátima! A venda de celulares aumentou vertiginosamente – como em todos os cantos do mundo, inclusive no Brasil. Logo, a revolução!

A revolução americana de 1776, a Francesa de 1789 e a Bolchevique de 1917 – algumas revoluções de razoável consequência – dispensaram a internet e o celular. Não consta que Lenine ou George Washington mobilizassem forças e traçassem estratégias com a ajuda do twitter.

No Irã, onde se diz que houve uma profusão de torpedos, os torpedos deram n’água. Não fizeram revolução nenhuma. Quem estava lá, lá ficou.

Essa fetichização da tecnologia não passa de papo furado de conservador para desqualificar movimentos populares. O Mubarak não vai cair por causa dos celulares da urubóloga. Ele vai cair porque a galera foi para a rua. E iria com ou sem os celulares de urubóloga.

Essa fetichização é um merchandising da Indústria da Telecomunicação. A TIM e a Vivo deveriam patrocinar o Bom (?) Dia Brasil. (Recomenda-se a Globo não aceitar o patrocínio da BrOi, porque lá na Bahia o pessoal tem uma certa implicância com a BrOi.)

Mark Zuckerberg, o quindim de Iaiá da Time, que o escolheu o Homem do Ano, ficou muito feliz com a “revolução” da urubóloga. Se ele é capaz de derrubar o ditador do Egito (não sem, antes, obter a aprovação do Departamento de Estado) o que mais ele poderá fazer?

Ele poderá vender esse “poder” miraculoso a meia dúzia de anunciantes. A capa da Time revela que o Facebook hoje tem os maiores anunciantes convencionais dos Estados Unidos – da Proctor and Gamble, à Nike e ao Viagra.

Já imaginou? O Zuckerberg oferecer num mesmo pacote, com bonificação de volume, “Viagra + derrubar o rei Abdullah da Arábia Saudita”? Quem sabe WPP, a maior agencia de publicidade do mundo, não compra isso? E repassa aos dois gênios do Google?

Faz parte da pseudo ingenuidade do pensamento conservador imaginar que a “ciência é neutra”. Que a tecnologia é neutra. Os neoliberais, por exemplo, pregavam que o Banco Central é “neutro”. É tudo a mesma “teologia”. Agora, celular faz revolução.

Daqui a pouco o jornal do Murdoch para Ipad, The Daily, vai vender à Chevron um anúncio com a promessa de derrubar o Chávez.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Depois de pesquisas, Instituto não reconhece Mata Atlântica no PI


O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, não reconhece a região da Serra Vermelha/Serra das Confusões como Mata Atlântica. Segundo sua coordenadora no Piauí, a mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Eugênia Medereiros, para enquadramento de determinada região em um bioma necessitamos de similaridades geoclimáticas, sendo que os fatores ambientais relacionados a distribuição das chuvas, solo e altitude são imprescindíveis para a definição de seus limites.
De acordo com a coordenadora, que durante anos atuou no IBAMA, desde a criação do Parque Nacional da Serra da Capivara, em 1979, os estudos apontavam para a importância não só arqueológica como ambiental daquela região. Ela ressalta que a doutora em fitossociologia, Laure Emperaire, durante 8 anos estudou a flora para o plano de manejo do referido Parque apontando tratar-se de uma caatinga arbórea densa, remanescente de floresta estacional semidecidual, com 12 extratos arbóreos diferentes de cobertura vegetal. “A falácia de que a região é Mata Atlântica, desqualifica e desconhece a importância do bioma da Caatinga, o único exclusivamente brasileiro e adaptado às condições de semi-aridez do clima nordestino.

A pergunta é: a quem serve o discurso de que alí é Mata Atlântica, os estudos não apresentados, os autores Sem sobrenome e as fotos de outros lugares para enganar quem verdadeiramente nunca esteve naquela área?”,indaga Eugênia Medeiros.

A coordenadora em conversa com o secretário estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Dalton Macambira, mostrou-se indignada com as notícias que circularam em mídia local e nacional, pontuando que existe mata atlântica no Piauí e pouco está se fazendo para preservar.
Segundo o professor Doutor Alberto Jorge, da Universidade Federal do Piauí, “temos que nos pautar em pessoas que pesquisaram, realizaram estudos sobre esses temas. Estudos feitos por professores doutores da Universidade Federal do Piauí e da Universidade Federal do Ceará encontraram cinco gêneros de plantas comuns aos dois biomas, mas infelizmente nenhuma espécie. Gostaríamos de ver a lista das espécies encontradas pelos estudiosos da Mata Atlântica feitos no Piauí, como também a comprovação da existência de solos, precipitações pluviométricas e temperaturas com influencia do Atlântico, imprescindíveis para o Bioma da Mata Atlântica.

Para o professor, doutor em Botânica, que pesquisou durante muito tempo aquela região, seus estudos, pesquisas e considerações podem ser vistas no site (www.bioten.bio.br). “Já me manifestei por diversas vezes sobre o assunto, infelizmente a voz de técnicos e especialistas não ecooa como a de "ambientalistas" que com falsas verdades e oportunisticamente desconstroem e desconhecem o trabalho de conservação da biodiversidade que vem sendo feito no Piauí, hoje com mais de dois milhões de hectares protegidos na forma de Unidades de Conservação”, acrescenta Eugênia Medeiros.

Eugênia Medeiros disse que o status de conservação da Mata Atlântica de um patamar de cerca de 5% para 27% com a inclusão das áreas do mapa do IBGE e que tal fato é de grande reconhecimento internacional, ficando mais fácil o financiamento de projetos por organismos internacionais para as ONG's que atuam no sul e sudeste do país e que não tem projetos para o nordeste.

O Art.2º da Lei 11.428 que regulamente o Art. 225 da Constituição Federal, destaca que para efeitos desta Lei, considera-se integrante do Bioma Mata Atlântica as seguintes formações nativas e ecossistemas associados, com as respectivas delimitações estabelecidas no mapa do IBGE, conforme regulamento: Floresta Ombrófila Densa; Atlântica, Floresta Ombropfila Mista, também denominada de Mata de Araucárias; Floresta Ombrófila Aberta; Floresta Estacional Semidecidual; e Floresta Estacional Decidual, bem como os manguezais, as restingas, campos de altitude, brejos interioranos e encraves florestais do Nordeste.

No mapa do IBGE elaborado em 2004, a área não se estende até o sudeste do Piauí. Todos os documentos e mapas do MMA que fazem referência àquela área o fazem como Caatinga e área de transição Caatinga/Cerrado, inclusive os que tratam de sua prioridade para conservação.

Aqui relevamos a importância do bioma Caatinga com as suas fitofisionomias características e adaptadas ao semi-árido o qual deve ser tratado com o mesmo grau de importância que os demais biomas brasileiros,principalmente nos dias de hoje quando passamos por profundas mudanças climáticas, preservar a caatinga que é resistente e adaptado a baixas precipitações e a altas temperaturas, deveria ser prioridade nacional.

Acerca da ampliação do Parque Nacional da Serra das Confusões, O ICMBio esclarece que o processo foi aberto ainda no IBAMA. A pretensão inicial era estender sua área em mais uns cem mil hectares, com vistas à conservação do maciço ainda preservado de caatinga arbórea. Passados mais de três anos, o avanço dos estudos realizados e o processo de negociação com as comunidades locais e o Governo de Estado do Piauí, com acompanhamento da SEMAR, levaram a anexação de mais de trezentos mil hectares, incluindo mais de 50% da área da JB Carbon e chegando até os limites da APA Estadual do Rangel.

“Ampliar o Parque Nacional da Serra das Confusões em mais de trezentos mil hectares não pode ser considerado um desserviço, mais sim uma missão cumprida na preservação do bioma da Caatinga, que eleva o seu patamar na conservação para cerca de 10%, desserviços presta quem não considera a importância da Caatinga como patrimônio nacional querendo forçar seu enquadramento como outro bioma. Trabalhamos hoje na perspectiva de ver o Parque implantado com a construção de sua infra-estrutura para recepção ao turista para que a população daquela região possa ter opção de desenvolvimento econômico que não seja a exploração dos recursos naturais” conclui Eugênia Medeiros.



Fonte: Semar

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

“Caso” Battisti: Eis por que estamos com Lula

Um grupo de intelectuais italianos radicados na França lançou na última terça-feira (4) documento apoiando a decisão do Brasil de não extraditar o ex-ativista Cesare Battisti e desmascarando os argumentos do governo ditreitista de Sílvio Berlusconi. A mídia italiana e alguns políticos que conforme a ocasião se apresentam como de “esquerda” são aqui submetidos a severa crítica
Somos um certo número de italianos residentes no exterior, onde trabalhamos no ensino e na pesquisa, estupefatos com a postura da mídia e da “opinião pública” do nosso país diante do “caso” Cesare Battisti. A jornalista Anais Ginori, em La Reppublica de 2 de janeiro, parece por exemplo estigmatizar o “júbilo dos intelectuais franceses” (arbitrariamente identificados com Bernard-Henri Lévy e Fred Vargas) diante da recusa de extraditar Battisti, decidida pelo presidente brasileiro Lula da Silva.

Quanto à força de oposição ao atual governo Berlusconi, estamos particularmente surpresos ao constatar como alguns parlamentares do PD se recordam repentinamente de sua matriz ideológica, apelando inesperadamente ao presidente Lula enquanto “homem de esquerda”, com o único propósito de questionar seu gesto de precaução em relação aos direitos de um preso.

Contrariamente ao que se tem escrito e dito, nós acreditamos que a decisão de competência do presidente brasileiro não é resultado de um juízo superficial e apressado sobre nosso país, mas resultado de uma avaliação aprofundada e pertinente da situação política e judiciária italiana. O Brasil é o último de uma longa lista de países, após Grécia, Suíça, França, Grã Bretanha, Canadá, Argentina, Nicarágua, que se recusaram a colaborar com a justiça italiana. Será um acaso?

Na verdade, a fúria do governo italiano em pedir a extradição de Battisti se configura hoje mais como a vontade de exorcizar um inimigo vencido (quase uma obsessão de eliminar), do que como uma sóbria, autêntica exigência de justiça. Surpreendente, em particular, uma tal perseverança “justiceira” da parte de um executivo tragicamente incapaz de lançar luz sobre a carnificina dos anos sessenta e setenta, unanimimente considerada pelos historiadores como a “mãe” de todo o terrorismo.

Recordemos como em seu favor o “zero responsáveis” sobre o atentado da Praça Fontana em Milão e da Praça de Loggia em Brescia tem sido permanentemente consagrado, respectivamente pela Suprema Corte em 3 de maio de 2005 e, mais recentemente, pela Corte de Inquérito em 16 de novembro de 2010. Ou uma magistratura severa que garante a imparcialidade do Estado, como sugerido recentemente por Alberto Asor Rosa[1] em uma de suas freqüentes colunas no Manifesto!

Uma tal diferença de tratamento em investigar a responsabilidade, que não tem como não saltar aos olhos da opinião pública internacional, não é apenas o efeito de uma permanência endêmica, na Itália, de uma classe corrupta no governo ou mesmo para-fascista (de Alemanno, ex-membro de esquadra fascista, prefeito de Roma, ao insolente ex-MSI [2] La Russa, Ministro da Defesa). Não, essa tara originária é antes de tudo fruto da política de emergência que tem sido o leitmotiv da política italiana do pós-guerra e na qual a esquerda se deixa seduzir, até a morte rápida como uma fatalidade, quando não tranqüilamente acomodada, por uma consolidada incapacidade de propor uma alternativa global a uma ordem capitalista tardia.

Essa “emergência” prolongada foi a base da participação de setores inteiros do Estado nas atrocidades criminais que ensanguentaram o passado recente da história nacional, impedindo a emancipação social e debilitando antropologicamente, molecularmente, a cotidianidade. Fato altamente significativo, a classe política atualmente no comando na Itália é herdeira direta desses poderes um dia ocultos (“Piano solo”, “Gládio”, “P2” [3]), mas agora definitivamente desembaraçada e bem decidida a ocupar o terreno político e midiático, para defender seu próprio interesse vital ameaçado: aquele de uma vida reduzida a uma pura, absurda axiomática empresarial.

A “anomalia italiana” não é senão o resultado dessa sistemática subordinação dos órgãos garantidores do direito à “exceção” do comando político e ao seu diktat selvagem sobre a consciência. Basta pensar que um dos mais altos postos da República, abaixo apenas do presidente Giorgio Napolitano, é hoje confiado a um “magnata” da mídia cuja “acumulação primitiva”, no curso dos anos sessenta e setenta, tem sido caracterizada por aqueles que a definiram eufemisticamente como “ilegalmente comprovada”.

Portanto, acreditamos que o forte envolvimento do Estado italiano na guerra civil “guerreada” que teve lugar na Itália nos anos setenta, paralelamente ao conflito (não somente e nem sempre “frio”) encenado pelos dois blocos internacionais opostos e parcialmente especulares, torna impossível desatar o nó histórico emerso com o “caso” Battisti no quadro das instituições e das leis atualmente vigentes na Itália. Somente uma medida que reconheça a enorme responsabilidade do Estado na degeneração do embate político entre os anos sessenta e oitenta, e não a grotesca exibição de orgulho nacional a que estamos assistindo nesses dias, pode permitir à Itália sair do “déficit” de credibilidade internacional que danifica fatalmente sua imagem. Enquanto tal medida não se concretizar, justiça não poderá ser feita e o pedido de extradição de ex-terroristas aparecerá fatalmente como atalhos vexatórios, quando não como tentativas mentirosas de reescrever a história.


Saverio Ansaldi – Universidade de Montpellier III
Carlo Arcuri – Universidade de Amiens
Giorgio Passerone – Universidade de Lille III
Luca Salza– Universidade de Lille III.

Notas
[1] Alberto Asor Rosa é um intelectual conhecido na esquerda italiana desde os anos sessenta. No final dos anos setenta, como quadro do Partido Comunista Italiano, defendia posições teóricas que buscavam se contrapor ao protagonismo nas lutas sociais dos sujeitos políticos dos quais Cesare Battisti fazia parte. Vide sua teoria da “primeira” e “segunda sociedade”. (N. do T.)
[2] Partido formado no pós-guerra por aderentes do fascismo. Foi na prática o partido fascista italiano até sua dissolução na Aliança Nacional em 1995. (N. do T.).
[3] Gladio era o nome de uma operação clandestina da Otan no pós-guerra, com objetivos anti-comunistas. Entre suas ações estavam atentados como a chamada “bandeira trocada”. P2 era uma loja maçônica, envolvida com a Operação Gladio, com a máfia e em escândalos financeiros. O ‘Piano solo’ foi um plano no qual a Gladio esteve envolvida e que conseguiu tirar do governo italiano os ministros socialistas, em 1964. (N. do T.).

Fonte: Uninomade.org
Traduzido do italiano
Texto extraído do Portal Vermelho